Por Um Mundo Melhor

            De uns tempos para cá passei a me interessar muito pelo assunto gestação e parto. Eu já me sentia atraída por esse tema por verificar a importância que ele exerce no desenvolvimento psicológico da criança e consequentemente em nossa vida adulta. Porém, minha atenção para o fato não ia muito além de observar que os nascidos de parto normal tendem a ter um comportamento diferenciado dos que nascem de uma cesariana. Por eu ter sido gestada em meio a sentimentos dos quais sinto que influenciaram minha vida durante muito tempo e por ter nascido de um parto normal com algumas complicações, esses também foram fatores motivacionais para que meu interesse aumentasse ainda mais pelo assunto gestação e parto.

            Sempre acreditei que a gestação é um período extremamente importante na vida da mulher e que seus sentimentos durante esse período exercem influência no bebê. A mulher que passa por uma gravidez cheia de medos e inseguranças, transmite ao feto toda essa carga emocional. Da mesma maneira aquela que sente confiança e proteção, também oferece o mesmo sentimento ao seu bebê. Por esse motivo, assim como se sabe da importância do pré-natal, também é essencial cuidar do lado emocional da mulher. Afinal, são muitas mudanças e por mais que pareçam estar preparadas para isso, o novo sempre traz consigo alguns desafios, e neste caso, a mulher não está só, há alguém junto a ela passando também por essas transformações.

            Após essa fase na vida de uma amiga a quem sou muito grata, conheci um pouco o universo do parto humanizado e com ele também os desconfortos e dissabores vividos por muitas mulheres, fazendo com que esse momento tão especial se transforme em tormento e trauma. Conhecer um pouco da realidade obstétrica em nosso país gerou em mim uma sede em auxiliar mulheres, gestantes, famílias, todos aqueles que de alguma maneira apreciam o nascimento e acreditam que essa é uma forma de melhorarmos o mundo em que vivemos.            

            Trazer uma nova vida para o planeta é uma dádiva e uma grande oportunidade de exercemos o amor, vivenciarmos o que tão belamente sai de nossos lábios, mas que nem sempre vem carregado do seu real sentido. O parto é a porta de entrada de um ser para o mundo e se ele for feito de uma maneira acolhedora, plena e recheado de amor, podemos fazer com que esse novo ingressante traga em si estas marcas e não mais o descaso e a violência, dentre tantos outros aspectos que vemos em nossa sociedade atual. Para alguns pode parecer loucura associar que o parto pode influenciar no caráter e na personalidade de uma pessoa, mas sendo esta a primeira experiência de vida da criança, isso ficará registrado em seu psiquismo, influenciando assim seu modo de ser e viver. Fica melhor compreendermos isso quando olhamos para alguma situação em nossa vida prática. Por exemplo, qual a lembrança que você tem da primeira vez que foi à escola? Talvez você não se recorde, mas está aí registrado em seu subconsciente, e provavelmente sempre que vai a algum lugar desconhecido pela primeira vez pode ser que você sinta algo semelhante ao que sentiu nessa experiência escolar. Quando foi para seu primeiro emprego ou quando começa numa outra empresa, qual sua reação? Qual o sentimento que o permeia? Se você tiver passado por essa primeira experiência escolar de uma maneira prazerosa, acolhedora, sentindo que está protegido e que nada de mal vai lhe acontecer, é muito provável que na vida profissional você tenha tido uma experiência semelhante. É isso que dizemos referente ao parto e seus registros. Quanto mais agradável e envolvido por boas sensações, melhor será a lembrança fixada e, desta forma, aquela que será reproduzida na vida deste bebê, criança, adulto...

            Sinto que este é um trabalho de formiguinha ou como o beija-flor em meio ao incêndio na floresta fazendo sua parte com a água que lhe cabe despejar. Não sou contra os movimentos ativistas, mas também não me agrada a postura de ‘lutar’ por mudanças, pois lutar não se baseia nos princípios de acolhimento e amor já mencionados. Acredito que essa mudança se faz com consciência, ouvindo e falando o que precisa ser dito, levando esclarecimento e cuidando de todo enredo oculto nesse contexto.

            Façamos a nossa parte!

Valéria Barbosa Marques